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Em: News
2021, 11 22

Missão Laurel: Mostrar ao mundo Portugal, fazedor de excelência e de luxo

Tem um mês de vida e a missão assumida de aqui fixar o maior valor das melhores coisas que o país faz. O que passa por prolongar e modernizar a arte, valorizar e perpetuar o trabalho e know-how dos artesãos. Francisco Carvalheira, secretário-geral da associação que junta as marcas de luxo nacionais, explica a estratégia.

 

O trabalho aplicado em cada peça esculpida em prata pelos artesãos da Leitão & Irmão, de cujas mãos saiu a coroa de Nossa Senhora de Fátima na qual foi incorporada a bala que quase matou o Papa João Paulo II, é reconhecido mundialmente - ainda que desconhecido de muitos dos que deviam orgulhar-se de valores nacionais que há mais de dois séculos seduzem reis, clero e povos do mundo inteiro. Mas podia ser ainda mais relevante. E mesmo antes de a marca bicentenária que mantém loja e oficina no Bairro Alto abrir portas, não havia casa real que não exibisse um serviço de prataria portuguesa, que continua a brilhar, por exemplo, no museu do Duque de Wellington.

 

O azeite português é do melhor do mundo, mas demasiadas vezes a sua importância e mais-valia diluem-se em barricas espanholas ou italianas. Os sapatos portugueses estão entre os mais bem feitos do mundo mas são vendidos a baixo preço para marcas que crescem e se destacam à boleia da sua qualidade. Os trabalhos exímios em madeiras, as melhores botas de hipismo do mundo, as canoas que mais medalhas rendem a quem com elas compete. A lista de valor made in Portugal multiplica em muitas vezes o tamanho do país, mas representa uma ínfima parte da mais-valia que aqui se podia fixar e que todos os anos nos foge porque não é agregada e potenciada pelo próprio selo português.

 

É precisamente com o objetivo de alterar este paradigma que nasce a Laurel, que em outubro começou a associar dezenas de marcas de luxo nacionais para preservar o valor, perpetuar a mestria e valorizar os nossos melhores produtos, dando-os a conhecer nos sítios certos lá fora, para garantir que se capta cada vez mais valor para Portugal. "Nesta semana, vamos trazer a Lisboa Clemens Pflanz, CEO e fundador da Meisterkreis e dirigente da Aliança Europeia das Indústrias Culturais e Criativas (ECCIA, na sigla original), de que a Laurel faz parte. E vamos apresentar o fundo comunitário desenvolvido pela ECCIA" (resumidamente, reúne as associações de marcas de luxo da Europa), que disponibiliza 2,3 mil milhões de euros precisamente para preservar o saber europeu. "Pflanz é o primeiro a dizer que Portugal tem um caminho longo e difícil a percorrer, mas tem imenso potencial."

 

Quem o diz, no cenário de luxo que é a oficina da Leitão & Irmão, é Francisco Carvalheira, o secretário-geral da Laurel (representante da Heron Executive Aviation na lusofonia e professor convidado da Católica), que junta esforços para que se comece a fomentar o "saber fazer português" e a criar e solidificar o valor do país enquanto marca de qualidade a nível mundial. Para isso, conta com a arte inquestionável de marcas que vão da Vista Alegre à Amorim Luxury Group, do Savoy Palace à Torres Novas, entre outras de qualidade e valor reconhecidos, que podem servir de cartão-de-visita do país e de trampolim a outras áreas de incrível talento mas em que os artesãos e mestres têm ainda pouco ou nenhum reconhecimento. Mesmo que trabalhem experiências de vários séculos - que importa preservar nos seus traços essenciais e identificativos e modernizar com a tecnologia hoje disponível, de forma a adaptar processos e conservar saber.

 

Essa apetência pela identificação, pelo melhoramento e pela promoção de artes, não apenas para que não desapareçam mas para que ocupem o merecido lugar e tomem a devida mais-valia, é missão assumida pela Laurel. Proteger a arte e potenciar os artesãos

 

Proteger a arte e potenciar os artesãos

 

"Precisamos de promover essa passagem de experiência que preserva a nossa identidade (o que também passa pela propriedade intelectual e valorização da assinatura da marca Portugal), de garantir a continuidade das artes dos nossos mestres, e nisso tem papel essencial a formação de novos artesãos. Em França ou no Japão, um mestre-artesão é quase um herói nacional", concretiza Francisco Carvalheira.

 

Por outro lado, explica, a Laurel quer também potenciar o brilho do que de melhor se faz em Portugal. E isso faz-se em três vertentes: por um lado, procurando profissionalizar a gestão, encontrar falhas e desafios de marketing e melhorar processos; por outro, dando uma audiência selecionada a quem sabe contar a história de cada marca e da arte portuguesa de luxo; e por fim levando as marcas aos melhores salões europeus para que sejam vistas, apreciadas e aqui atraiam fãs.

 

"Ao levar o melhor que aqui fazemos a Monte Carlo, ao Monaco Yacht Show, estamos a criar valor à marca Portugal, a trabalhar na identificação internacional do país como origem de qualidade. Não vamos ali vender, vamos recrutar os melhores clientes, mas também potenciais investidores para as marcas de topo portuguesas. Quando falamos na Hermès, na Loewe, na Jaguar, entendemos o valor marca e o valor país - que se constrói com tudo o que ele tem para oferecer. E nós temos imenso talento, imensa qualidade e enquanto país enormes vantagens, desde o sol à segurança, à comida, à simpatia, etc."

 

Tradição virada ao futuro

 

 A explicação de Francisco Carvalheira, secundado por Inez Mendia, responsável comercial da Leitão & Irmão e também administradora da Laurel, concretiza-se na apresentação dos objetivos da associação: "Representar os valores da herança portuguesa, aliando a tradição às tecnologias de ponta, promovendo a importância da criação, da qualidade e do know-how portugueses, atualizados através do design e da inovação."

 

Nessa viagem, a Laurel contará, graças à integração na ECCIA, com a experiência das suas associações irmãs de Itália (Altagama), Espanha (Círculo Fortuny), França (Comité Colbert), Suécia (Comité Gustaf III), Alemanha (Meisterkreis) e Reino Unido (Walpole).

 

O reconhecimento das marcas portuguesas de excelência, com captação de mais-valias cada vez mais significativas para o país, que inclui elevar os preços desses produtos ao seu valor real, é a missão da Laurel, concretizada através de uma estratégia que pretende estimular "uma indústria voltada para o futuro do desenvolvimento da marca Portugal, como um fator de competitividade, progresso e criação de riqueza". E que está a ter uma adesão surpreendente.

 

Os 11 associados fundadores - Amorim Luxury, Comporta Perfumes, Sogrape, Maria João Bahia, RCF PI, Câmara Alta, Viúva Lamego, Francisco Torres Studio, Leitão & Irmão, Renova e Vista Alegre - juntaram-se, espalharam a mensagem e promoveram um pequeno-almoço de estreia no Ritz, para 40 marcas. Em menos de nada, tinham o dobro das inscrições e tiveram de fechar a novas entradas. "Desde o dia 14 de outubro que não paro de responder a contactos, dúvidas, solicitações de novas marcas de excelência que encontram na Laurel resposta às suas necessidades", justifica Francisco Carvalheira. "Agora, é preciso deitar mãos à obra. Há muito trabalho a fazer para ganhar massa crítica e Portugal ser finalmente olhado como merece, como um fazedor de excelência e de luxo."

 

Dinheiro Vivo 21/11/2021